Há um espaço aberto, um tipo de
buraco negro que rodopia sem parar. Onde ele está? Onde ele está? Somente o
sopro do vento, o barulho da chuva, a pele arrepiada. Eu estou ficando velha.
Há um deus de viver num cão? Há
um cão? Há um deus? Tem alguém em casa?
Esse assunto gira em minha cabeça
de vez em quando, às vezes não parece ser tão importante quando você não sabe
por onde começar. Sinuosas estranhezas num quarto parcialmente ensolarado. E
enquanto alienígenas preenchem os meus sonhos eu questiono sobre a nossa
humanidade. Irônico, não acha?
Mas às vezes o que resta é o
barulho da chuva e isso dá um suave toque de perplexidade. Tão real, quanto o
sonho que se despedaça com o despertar. Tão fantástico quanto uma perfeita melodia
ao piano. A musica diz que o tempo está ao meu lado. Mas no final eu só tenho o
barulho da chuva.
De vez em quando o passado
desocupado bate a porta. Há algum correspondente para colocar isso no jornal de
hoje à tarde? Não se preocupe, não se preocupe... Os olhos de Desespero às
vezes são ardentes e insanos, mas depois que tudo passa te resta apenas uma
questão: O que foi que eu fiz?
Não é motivo de fato para se
preocupar. Porque de vez em quando o universo em seu mau humor costumeiro gosta
de apagar as luzes e fechar as janelas. E bem, ainda não soube de um médico
qualificado para dizer a ele que ele é bipolar.
Quero de vez em quando se torna
estranhamente meu verbo preferido. E indiferença é uma máscara que eu visto
quando percebo que deuses de vez em quando também vivem em cães. De vez em
quando há um tipo de estreiteza em minha visão. Mas quem não pode ver? Quem não
pode ver?
É fácil bater em minha porta
quando não resta mais nenhuma opção. Há um deus de viver num cão? E é fácil ser
uma perfeição quando se espera algo em retribuição. Há um deus de viver num
cão?
Não que isso seja muito difícil.
Mas pode ver que as velas estão queimando? As velas estão queimando! E elas se
apagam, pois não há como se manterem acesas por muito tempo. (Seria por isso
que o universo apaga as luzes de vez em quando?)
Eu estou doente. Estou doente. E
queria que fosse um bom poema. Mas cães não escrevem poemas. E os caminhos para
as serpentes é sempre sinuoso. Mas assim é a vida... Resta o barulho da chuva.