terça-feira, 21 de junho de 2011

Das Flores




O chão é feito de nuvens e meus pés afundam na sutileza de um grito silencioso
A noite canta uma canção, daquelas que ninguém entende, mas tudo sente
Do silêncio da aurora, ao luar frenético dos estrondos pavorosos de dias faustosos
Eis que surge no vento um homem amontoando num saco várias gotas de sortilégios.
Eu me lembro do dia em que a arvore imitou o corpo de uma mulher
E duendes saltavam em bares para roubar algumas canecas de cerveja,
Eu me lembro da canção que eu ouvia que dentro da melodia repetia
Que sempre há um amor que nasce para um amor que morreu.
No vento eu ouço a canção de homens que se cegam por causa da sua moral,
E a moralidade nada é senão um grande baú de belas mentiras,
Nem muito meu, nem muito seu, mas tornei desse o dia,
Onde de tanta alegria, a vida enfartou e morreu.
Porém, ouça-me quando o canto parece ser mais belo que o conto,
Como uma triste opera a contar belas histórias de pessoas que sofreram,
Porque sempre há uma excitante e malograda beleza no pranto que se chora,
E há sempre um lindo poema para relembrar de coisas como prosas.
Veja bela semente que foi jogada no jardim do silêncio,
Que dorme sob a terra, alimenta-se de água e anseia pelo vento,
Porque de dores e tormentos e mentiras e hipocrisia o coração pode estar cheio,
Mas em teus olhos a doçura de tuas palavras parecia apenas um belo nevoeiro.
Dorme, pequeno sujo, de doces olhos e de palavras outorgadas, de sonhos, de prata, de nada,
Dos belos sorrisos, dos melhores afagos, dos olhos, da boca e dos lábios
Doce como um ataif árabe, que meleca toda a boca e faz escorrer nos lábios a perdição,
O açúcar, o prazer e um mínimo de satisfação, para não dizer, benção, canção e maldição.
De egoísmo em egoísmo tornou-se então uma pessoa, faça-se pessoa,
Microcosmo florescente de sonhos inacabados e de sentidos ausentes,
Eis que eu profiro, ainda tímida, uma pequena falácia, fruto de distração,
Mas acredite, a flor sempre há de morrer por falta de atenção. 

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Eu minha

Os dias às vezes têm a ironia de se tornarem vazios, eu rebuscaria palavras se eu tivesse paciência para isso. Não se trata, obstante, de adequado e inadequado, muitas vezes o que se sente é apenas uma distorção daquilo que se crê. As crenças dançam entre os escombros de uma história escrita de uma forma bastante inusitada. Inusitado soa sempre como algo bastante positivo, mas às vezes o inusitado pode ter o pior dos tons, como um cinza escuro, um pessimismo.

Os olhos percorrem tantas histórias que às vezes não consegue distinguir o que é o outro e o que sou eu. Um borrão enlameando o vácuo do universo, descrevendo linhas nunca antes vistas, como a matéria escura que sustenta tudo. O que seria? O que seria? Senão um tipo de choro contido pela falta de perspectiva. Já escrevi algumas histórias no decorrer da minha vida e foram poucas que obtiveram um final feliz.

Meus dedos percorrem essas linhas imaginárias que desenham formas abstratas, mas que falam entorpecendo toda a minha alma. Eu poderia percorrer todos esses sentidos e meu perfeccionismo para apenas impressionar você e me desenhar tal qual uma atriz a encenar mais um personagem. Mas creio, sobretudo, que isso é bobagem, pois é só mais uma forma de mostrar que dentro do canto escuro onde a noite deita o seu lamento, eu apenas estou com medo.

Não, não sou dentre as mulheres a mais bela, feito Afrodite a dançar em espumas suaves, tampouco sou entre os mortais a detentora da mais magnânima sabedoria, feito Atena nascida da cabeça de Zeus. Sou, portanto não mais uma, porque dentre todas as pessoas posso conceber-me como um ser único e perfeito em sua imperfeição. Mais uma em face de manifestar a beleza do universo em toda a sua diversidade. Mas dito isso, sou e sempre serei aquela a sonhar, muitas vezes com pranto no olhar, a desmistificar a minha própria existência, sendo ainda eu mesma um grande mito.

Apenas hoje eu me nego o direito de entristecer ou enciumar, eu me nego ter de priorizar coisas que não são minhas, seres que não sou eu. Altamente atenta de minha unicidade, originalidade e expressão. Deito uma prece, como sempre deitei, mas não me ajoelharei, nem implorarei, tampouco deixarei que isso me contamine. Não perderei meu sono e não mais odiarei, seja o que for. Essa é a concepção, minha nova filosofia de vida, ser eu tão minha quanto jamais qualquer outra pessoa poderia.

domingo, 12 de junho de 2011

Entregue me aos rios

Escrito em 04/12/2010


Uma manhã cinza, o mundo parece estar um tanto complicado hoje, as verdades me soam como mentiras, as mentiras como verdades, e, eu acho que estou bastante confusa. Mas, nós podemos escolher o que queremos ser hoje e eu acho que às vezes eu só queria poder ter um pouco do passado de volta. Isso soa melancólico, eu sei. Mas, quando as sombras dançam na parede do meu quarto eu juro que talvez eu não encontre mais ninguém no mundo como ele.

Tão longe, tão perto... Eu continuo lendo esse livro em voz alta, eu observo a aranha que morreu no corredor, eu acendo mais um cigarro, espio o dia pela janela e nesse rio que atravesso, quem sabe o próprio Aqueronte, eu não sei exatamente para onde estou indo, sendo, talvez, qualquer uma de minhas escolhas um caminho para o Érebo.  Isso não me deixa triste, não, é o passado, a outra margem que deixei que às vezes sopra uma brisa de melancolia.

E enquanto eu caminho por essas ruas sujas dentro dessa manhã cinza e quente, as pessoas seguindo para viver o dia, lembro-me nos cantos mais inusitados de alguns momentos e nesse pequeno instante eu escondo de mim qualquer tipo de sentimento que esteja em desacordo com a nuvem que escorre tempestuosa para o sul da minha alma. Por favor, me deixe sozinha agora, eu só preciso jogar poker.

Você está arrependido? Está arrependido? Nós cortamos as arvores, transformamo-las em lenhas, ateamos fogo e nem precisávamos disso. Foi pura diversão, você teria me dito. Eu nem ligo, eu nem ligo. Sabe o que eu encontrei aqui? Alguns pedaços de sorrisos velhos que caíram junto com a chuva que devastou a cidade, Caronte sorri, talvez eu mesma estivesse também sorrindo nesse barquinho.

Pegue sua corda, amarre-a bem no teto e depois a aperte ainda melhor em seu pescoço. Sem carta de despedida, sem moeda sob a língua, não nos encontraremos no Érebo. Mas, se quiser, eu posso escorregar nesse abismo e te entregar uma rosa, ainda que morra, porque a morte é só mais um começo. Porém, eu não entendo, estou moribunda há tanto tempo e nunca morro. Minha corda era fraca demais...

Leio novamente o livro em voz alta, todos os dias eu perco grande parte do meu precioso tempo lendo esse livro cheio de mentiras. Eu acho que só preciso de um banho, uma cama e algumas horas de sono, mas isso não exclui o fato de eu estar perpetuamente cansada disso tudo. Isso não exclui o fato de excluir o excluso, eu inclusive.

Onze da manhã, o dever me chama, o lado b da vida me espera, talvez um poço de morte, ou uma fonte dos desejos, talvez um céu enegrecido ou uma terra esbranquiçada. I don’t mind! Temo não haver mais ninguém no mundo como ele. Temo não haver mais mundo como aquele. Temo estar tomando a decisão errada. Temo, mas não faço nada, porque às vezes pode se sentir um prazer divino em temer. Jogue o que restar de mim no Estige, mas minha mente, minha mente, essa é para o Lete.

E eu me deito, eu me jogo, eu minto, eu te amo, eu te detesto, eu falo a verdade, eu jogo baralho com Loki, eu escorrego no tobogã do horrível para me afogar no Nilo... E em meu ultimo lamento, em meu ultimo lamento, eu imploro a Dionísio, ainda que implorar não seja uma arte que eu faça bem... Por favor, leve-me, leve-me para todos os lugares e para lugar nenhum, Dionísio, porque maldita foi a hora que Prometeu me deu este fogo amaldiçoado! Porque eu desejei ser humana, mas Prometeu insistiu para que eu fosse um ser divino.

E eu morro, eu sinto sua falta, eu gargalho, eu digo e eu estou mentindo. Leve-me agora para longe, Dionísio. Estou farta do abismo.

Uma gota

Escrito em 18/10/2010

Beber o universo em um gole de água! Você pode ouvir isso, querido? Minha pergunta é indelicada, mas estávamos tão acostumados a viver com nossos ouvidos tapados que nossa surdez acabou se tornando um terrível caso de loucura. Não que a loucura seja alguma coisa da qual gostamos de nos queixar, veja bem, às vezes gostamos de nos queixar quando o dia deita algum tipo de benção sobre nós.
Um gole de universo às vezes é o suficiente para deixar qualquer um inspirado, ou simplesmente enlouquecido, ou talvez um gole de universo seja o suficiente para nos fazer deitar na calçada e sentir o vento tocando o rosto. Tantas coisas o vento vem soprando para nós, tantas coisas o vento vem retirando de nós e muitas vezes estamos tão ocupados com nossas mentes que sequer damos conta.
Vieram-me e me deram uma poça suja de presente. Rasgaram os travesseiros e ainda me perguntam o que é que eu tenho sonhado. Uma voz em minha cabeça diz que eu estou ferrada, outra que eu devo me manter segura do passado. De um modo ou de outro, eu acho que só queria um pedaço de chocolate.
Sinta essas palavras! Sinta essas palavras! Porque alguém como Max Heindel pode te tirar o direito de ter um mundo só seu e dividi-lo aos pedaços e ainda espera que você o entenda. Coma todos esses chocolates! Porque de repente o mundo pode virar de cabeça pra baixo e seus chocolates simplesmente virarem bolhas de sabão que são carregadas para longe, o vento adora carregar coisas leves como bolhas.
Às vezes gosto de pensar que você está bem, às vezes adoro pensar que você está no inferno e às vezes eu gosto de simplesmente olhar para a cidade e enlouquecer com perguntas imbecis que me fazem questionar se de repente o mundo só é esse mundo de formas. Nada contra as formas, mas veja bem, querido, quando tudo o que se tem no mundo é uma parede de concreto, acho que não sobrará muito espaço para nós.
A chuva cai e às vezes me pergunto o que é que ela está lavando, se é a poeira que deita sobre essa cidade desgastada, ou se minha sanidade. Às vezes gosto de coisas como bicicletas voadoras, ou de desenhos rabiscados em paredes, ou de sonhos que se transformaram em algum momento algum tipo de verdade e às vezes eu gosto de ouvir o que se tem para dizer, ou de simplesmente dizer o que não se tem pra ouvir. E quando eu descrevo aquilo que sou, estou descrevendo exatamente aquilo que não sou. Não que isso seja alguma novidade para nós, mas bem, deixe me deitar minha cabeça em seu colo e contar uma longa história sobre discos voadores, isso não fará qualquer diferença.
Por favor, pequena gota de chuva, diga-me: Para onde está indo? Para onde está indo?

Abismo

Escrito em 28/10/2010


Dentro daquilo do que pode parecer, não um despertar, tampouco um adormecer, mas imagem confusa de uma ilusão necessária.
O universo dando-me seus segredos, para despedaçar dentro do abismo onde tudo que se vê é dualidade, quente e frio, seco e molhado, na boca o gosto do café amargo,
Sonhos que contam histórias de alguém que eu fui outrora, num outro mundo, tão inadmissível, a mente concebe aquilo que decodifico, mas tão incrédula com a suavidade da linguagem sem palavras,
Consciência alterada, por uma fração de segundos, nem o entendimento, nem o absoluto, talvez um vago conhecimento daquilo que não estou pronta para conceber.
Você contempla aquilo que pensa que sou, que muitas vezes não condiz com o que penso que sou, porque o que sou não pode ser pensado, nem prensado, nem comprimido...

Alívio...

Olho pela janela a claridade do sol amigo. O dia é timidamente quente, mas não importa para aquele que não sente, que tal clareza deveria levar as pessoas ao despertar...

E eu adormeço...

Contando-me histórias sem parar, tocando o sol em seu despertar, no leste da manifestação, angariando mundos de desejos, enquanto se caminha em dispersão.
Sussurro palavras em um idioma alienígena, nem um pouco incrédula, nem um pouco obsessiva, mas dentro da concepção do que é...
Vivendo a magia em uma totalidade atípica, não que isso pareça com as nuvens que rolam pelo céu, estou retirando-o do seu foco, por uma questão de órbita, uma simples rotação,
Peças necessárias numa maquina gigante, terrivelmente sobrepostas, amavelmente aleatórias, vivendo a incessante arte da mudança.
Ansiando o anseio de ir além desse tempo... E que tempo? Se podemos com nossos pinceis como artistas pintar passado e futuro ao bel prazer, que deita o sorriso no rosto de Dionísio.

Amada loucura...

Dos prazeres, das delicias, dos deleites, dos bacanais... A espalhar a alegria pela terra, em gargalhadas sinceras, no êxtase, na dança, no vinho...
Termino sorrindo uma doce poesia que nada tem para dizer para aqueles que não podem ver, dentre as sombras e os escombros de um abismo profundo, que a luz implora e ama a presença da escuridão.

Samael

Escrito em 29/10/2010



Desfaleço! O que haverá de fazer diante da abominável barreira da crença da limitação? 


Escorregar-me dentro de um corredor amanteigado das vias impostas pelos caminhos mais surreais possíveis. Beijando loucamente a boca de Samael. Implorando pelo seu veneno. Implorando por sua maçã.


Tente-me, Samael! Tente-me!

Para que ao tomar de sua tentação eu possa desvelar o oculto, deitar sobre as sombras da insanidade e deleitar-me na sensualidade dos delírios de teus beijos. Despir-me da velha carne, despir-me dos velhos conceitos. Adiante na loucura da sensualidade da sua escuridão.

Tente-me, Samael! Tente-me!

Porque do Éden também quero ser escorraçada, para além dessa loucura infligida, mentira lustrosa, terrivelmente destrutiva. E eu questiono todas essas concepções e todas essas perspectivas, vasculho em tudo para purificar todos os lugares onde esta sujeira está impregnada, Samael, querido, você não está sozinho e pelos seus beijos estou embriagada.

Procurarei teus olhos em cada homem que amo, deleitar no leito do conhecimento insano, para além dessa racionalidade condicionada. Sem ética, sem moral, sem nada. Despida de toda a mortalidade que tentaram impor a minha divindade. Amando-o na loucura da minha sobriedade!

Morda-me, velha serpente, pois em meus delírios encontrarei a sabedoria, na morte encontrarei vida, para além de mediocridade, para além da inferioridade, purificando-me no êxtase da sua sedução. E eu não te deixarei sozinho, Samael, não te deixarei sozinho em sua escuridão.

Tente-me, Samael! Tente-me!

Como posso chamar isso?

Escrito em 10/11/2010

Sons, cores, imagens, abstrato...

Procurando minha liberdade me sinto insana, há uma estranheza... São relacionamentos eternos, relacionamentos eternos...

Eles estão ali e existem e sempre existiram, mas você não se dava conta disso, como que se tais relacionamentos já estivessem acontecendo o tempo todo, até que o percebe e então, ele parece uma realidade para você, mas ele já era real antes mesmo de olhá-lo, ou tão irreal que depende da sua credibilidade consciente para existir.

Isso me faz lembrar o giro financeiro, ele existe ainda que eu o desconheça como eu existo ainda que ele me desconheça.

É tão estranho, tão estranho... E é tão normal quanto juntar um monte de letras para formar essa frase, tão atual como o jornal de hoje, tão devastador quanto à tempestade que desabava do lado de fora quando isso me tocou.

E sinceramente isso muitas vezes parece querer não fazer sentido. “Não espere uma resposta rápida” – ele me disse: “Eu só estou tentando dar um sentido intelectual para isso” – eu repliquei. E por algum motivo muito profundo, algum motivo realmente profundo, eu sinto que estou desabando, para dentro de mim mesma, para dentro do cosmo.

Ela se levantou tão bonita e tão feroz, ela se levantou e eu já sabia seu nome. Eu podia a sentir incomodada e eu queria que soubesse que eu tinha tanto medo dela, quanto ela pareceu sentir de mim, mas depois eu soube que só eu estava com medo... E eu a perdi por um só momento, eu a perdi e me vi furiosa.

B. não poderia fazer muito, eu bem sabia, nós podíamos jogar poker, mas talvez soasse estranho demais para duas pessoas tão diferentes. Eu acho que B. sabia disso, enquanto que eu ainda permanecia, para variar, como a confusa da história. E eu penso que preciso parar de ouvir para aprender ver. E eu penso que estou enlouquecendo quando a ouço gritar. E eu estou muito confusa e ela talvez se sinta incompreendida.

A musica é alienígena, mas terrivelmente hipnotizante, é tão profundamente relaxante, é como se estivesse ouvindo o som que criou o universo, parece tão profundo e ao mesmo tempo tão elevado, que quero me deixar ir. Uma coronhada na cabeça e a ordem: “Vamos, acorda!”.

Deixo mais um simples toque, eu me lembro do quadro bonito, que por raiva ou capricho, ou mesmo um cinismo auto-imposto e pouco percebido me fez jogar lençóis sobre ele, ignorando sua existência. Coisas tão difíceis de ouvir, coisas tão amáveis de ouvir. Coisas... E eu penso e no momento seguinte já estou confusa sobre o que estou fazendo...

E então o outro me mostra o quanto todos aqueles meus sonhos estavam certos, e sem que me perceba posso tocar o muro da sua insatisfação, eu posso tocar o muro da sua infelicidade. E sem que eu possa sentir de outro modo, dentro dessa limitação, não estou surpresa de que estava certa e não estou surpresa com o que está acontecendo, porque como nos relacionamentos, esses eventos já estavam acontecendo o tempo todo e ganhou nossa atenção, mas não sei dizer como, eu já os tinha percebido antes, quando as aranhas dançavam em meus sonhos. E eu lamento por não ser tão benigna, mas sinto prazer nisso.

Deliberadamente confuso, deliberadamente verdadeiro, deliberadamente estranho. Quatro histórias, enquanto delírio olha os morangos podres jogados na rua. Quatro seres, embora não sei dizer se isso faz qualquer diferença. Quatro episódios, embora eu não esteja ainda falando da tempestade. Porque é assim que tem de ser.

Confusão

Escrito em 14/11/2010


Alguém desmaiou na escada e foi o maior fuzuê. Ninguém sabia exatamente o que estava acontecendo, mas como todos os seres humanos comuns, todos procuraram por uma resposta rápida. Alguns corriam achando que era incêndio, outros diziam que alguém acabava de ser baleado, outros disseram que uma mulher havia dado a luz na saída de emergência, outros que era algum bêbado fora de si. Então, uma mulher suspirou dizendo “Que confusão!” e um velhinho sorriu para ela em resposta: “Confusão não, caos criativo”.

De algum lugar muito alto aquele maluco saiu do vórtice de energia e jogou milhares de sementes pelo mundo, depois saiu correndo pelado num grande centro gritando “liberdade”. Quem poderia entender o que estava acontecendo? Todos se apressaram para dar um sentido para o acontecido, não importava se era verdadeiro ou não, desde que tivesse um sentido, uma causa, uma razão de ser. Provavelmente algum militante maluco.

E aquela menina comendo salgadinho no banco da praça, enquanto olhava umas crianças se divertindo nos brinquedos, pensava que razão era a coisa mais louca que alguém poderia ter inventado. Não conseguia pensar em outra coisa a não ser justificar a loucura como uma medida de dar um sentido as coisas. Explicar como? Para quem? E sobre o quê? Você tem certeza? Você tem mesmo certeza?

 E então houve a história daquele homem, que se perdeu na realidade, desde que começou a sonhar perdeu toda a noção de sonho e realidade, então começou a dizer que isso era sonho e aquilo era sonho e assim ele se tornou um grande sonhador, vivia sonhando... Sonhando aqui e sonhando lá. E alguém ainda disse que ele era parecido com Buda.

Ele era bem esquisito, vinha correndo pela rua em minha direção, pela feição parecia ser um louco qualquer que tinha acabado de sair do hospital. Ele segurou meus braços com força, sentia seus dedos cravados em minha carne. E ele começou a berrar: “Deseje para si as piores coisas do mundo, saboreie as piores coisas do mundo, experimente cada coisa horrenda que encontrar, aprenda a se desapegar de sua aversão, que é apego, e então isso te tornará tão forte, mas tão forte, que só poderá lidar com o mundo por meio do amor”. Soltou-me e continuou gritando: “Nenhum outro lhe dirá não, nenhum outro lhe dirá não”. Dei de ombros.

Três bruxas vivendo numa casa radioativa, elas eram reencarnação das Moiras. Isso mesmo, Cloto, Láquesis e Átropos e estavam perdidas por aqui. Por incrível que pareça elas adoravam comer patê de ração de cachorro com arroz, embora não soubessem o que era arroz. Apesar de toda essa confusão, elas são benéficas e entregam cachorro-quente para aqueles que elas convidam para a casa radioativa delas. Elas são mendigas, mas controlam o destino!

Confusão? Não, apenas caos criativo.

How soon is now?

Escrita em 16/12/10


Não que eu pudesse dizer tudo com precisão, mas sei o que me espera na próxima curva e eu não sei se estou sendo justa, mas eu preciso jogar com isso, não porque isso muda todas as coisas ou por algum motivo eu esteja sendo maldosa, eu também preciso disso como preciso de ar. Ele teria me dito que o espelho é um tipo de portal e muitas vezes não sei se reconheço aquele meu reflexo nele.
Matem o último homem restante dessa raça mutante, porque quando a musica simplesmente parar de tocar, alguém com um extremo bom gosto deitará uma lágrima, não porque isso faça qualquer sentido, mas os anjos às vezes não são tão generosos quanto queremos que sejam. E eu tenho deitado algum tipo de compreensão dentro disso, mas aquelas fotos, todas aquelas fotos, não me disseram qualquer outra coisa a não ser o quanto isso pode ser difícil para você e não que eu esteja sendo pessimista, mas isso é encantador.
Permita-me tomar um pouco de seu tempo, porque isso é tudo que você poderia estar disposto a me dar agora e quando o sol evita aparecer no horizonte, não que isso seja tão difícil, mas a vida deita um tipo de concordância dentro da alvorada da perdição. E eu queria estar muito errada quanto a isso tudo, mas nunca me senti assim tão certa, tão sensata e tão sóbria. Não dentro dessa intensidade.
Por que teve de escolher ser uma ponte quando poderia ser um porto? Por que decidiu pousar, passarinho? Mas, creio que não estou tão certa quando eu dou o meu tempo para falar sobre você. Você não está claro, não, você não está claro e penso se não foi você que decidiu sumir com o sol hoje. Eu estou rolando nessas escadas que me levam para dentro do que acho que é um oráculo. Como saber se estou certa? Diante de tamanha ambigüidade poderia haver algum tipo de certeza, se não fosse pela nossa capacidade de interpretar tudo errado.
Você ouviu isso? Podemos interpretar tudo errado e isso talvez nos dê uma chance (em um milhão?). São essas imagens que saltam sem parar e eu penso que sei, eu penso que sei, mas eu posso estar enganada. Deitou um tipo de solitude no amanhecer, um tipo de escolha sinistra diante de um olhar impreciso. Isso não quer dizer que não podemos estar certos. Não, isso pode significar que nós estamos certos.
Eu não quero parar de escrever, mas são tantas informações que tomam minha mente que não sinto ter qualquer controle sobre isso e é tão obscuro isso que eu vejo para você. Você está caminhando num dia cinza, num dia muito cinza e eu acho que já vi essa história antes, eu acho que eu já vivi essa história antes. Deveria ser verão, sim deveria. Mas é inverno e o inverno nem sempre é cuidadoso com nossos sentimentos.
E diga que o vento pode estar soprando e dizendo que eu estou louca. O vento poderia levar isso tudo embora? Não, creio que não, esse é o seu tempo, o seu tempo e isso pode ser algo que te traga algum tipo de divindade. E como está se sentindo agora? Eu realmente estou preocupada e eu realmente quero saber como está se sentindo, porque não sei como podemos ficar depois que o caos nos pinta ao seu gosto. E nenhum tipo de pensamento ou sentido me faz pensar que o que estamos fazendo é pura tortura, pura tortura.
Acho que em dias assim gosto de me ver caminhando pelas ruas, a sombrinha me dá um ar de inocência. Eu acendo um cigarro e sinto como se estivesse chapada, ainda que eu não tenha ingerido nada e essas imagens, essas imagens não querem deixar a minha mente, essas imagens querem me provar algo, querem me dizer algo e eu gostaria de dá-las todas para você e por mais que eu quisesse, eu não conseguiria ser tão clara... De qualquer modo, você me julgará louca e isso me faz encolher no canto do quarto, porque, querido, eu queria ser um quadro bonito para você.
Diga para parar! Diga para parar! E eu não consigo fazer outra coisa, eu me balanço na cadeira, eu quero dizer isso para todo mundo, eu quero dizer, mas ninguém me compreenderia ninguém me compreenderia. Resta-me deixar isso escrito em algum lugar para depois provar que eu sempre soube, eu sempre soube. E, querido, eu realmente me importo com você, embora adiante acreditará piamente que não. E eu não desejo que seja diferente e eu desejo que seja diferente. Talvez seja essa minha maldição, me responsabilizar por tudo o que estou fazendo para você.
Querido, me abrace e diga que eu estou louca.

Materialize-se

Escrito em 14/12/10


Alguém chamou meu nome, eu sei lá quem era, pensei que fosse um deus. Eu tracei um velho sigilo no peito dele, o sangue às vezes tem uma coloração bonita. Veja, isso devia ser suave, mas a garoa rasgou a minha carne nessa manhã.E algo como um anjo cuspiu ao longe enquanto baforava a fumava do seu cachimbo.

Sabe, Miguel, às vezes quando eu sinto que o vento está soprando demais, eu fico assustada. Você esteve doente que eu sei, e eu estive louca nas ultimas horas, assim as Norns tecem...

Um sonho desceu rolando ladeira abaixo e as cortinas começam se abrir para o ultimo espetáculo. Não se irrite com estas coisas, Miguel, o universo quase nunca sabe o que está fazendo. Mas, às vezes eu gosto de pensar que posso saber e quando estou para alcançar a verdade, erguendo meus pés, eu escorrego e caio... E a verdade? Ela vira uma bolha de sabão que estoura no ar.
Meus deuses, eu não sei de coisa alguma e nessa febre louca que todos estão queimando, alguém dita as regras... E alguns anarquistas, meus amigos, sacodem a cabeça e gargalham as gargalhadas cintilantes dos deuses solares. E isso soa como ordem. Mas, nem é isso que nós queremos agora. Ou é?

Miguel, tropeçaram naquelas coisas velhas que nós escrevemos naquela vida passada, quando o mundo era apenas algo como o centro do universo e Deus açoitava seus infiéis em troca de um punhado de ouro. Todos aqueles hipócritas renasceram com nova carne e isso significa que o mundo continua perdido e o universo não tem nem idéia do que ele está fazendo.

Eu posso ouví-lo chorar, Miguel e eu queria poder te abraçar e jogar um pano quente em suas costas, enquanto você enfiaria seus pés dentro de uma bacia de água quente com sal. Mas, precisamos ter calma agora e precisar de calma é algo que me faz gritar. Não sei se dou risada ou se choro, mas não se assuste com essas verdades maltratadas, elas estão aborrecidas porque não é nada fácil ser verdadeiro. Sua barba está enorme, Miguel e o chá está esfriando e alguém como você não pode morrer em um chá gelado.

Cronos é um maldito que só faz contar os dias! E quando penso que estou para encontrar Afrodite eu tropeço e caío num buraco e tudo o que eu encontro é Perséfone com sua mania estranha de viver carregando aquela frutinha. Hades sorri. O que eu posso fazer? Queria poder cruzar todas essas realidades e dizer para você beber o chá o mais depressa possível, antes que escorregamos mais uma vez e sua janela começa a te mostrar algo como uma rua cinzenta cheia de gente feia.

Explica-me, Miguel, como pode isso? Por que eu tenho que sentir essa falta que eu sinto de você se nem sei em que universo você foi se meter em meus ultimos sonhos? O que as pessoas irão pensar de mim? Vão dizer que mesmo com toda essa idade eu ainda tenho uma mania infantil e louca de amigo imaginário. Quem vai acreditar em mim se eu disser que você é real, sem que você se materialize logo? Lamento te informar, mas a maioria já está questionando em qual hospício irão me internar. Então, prove logo, prove logo para todos eles que você existe, ou esquizofrênia será pouco para o meu diagnóstico.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Decepção

Um dia enquanto eu chorava na mesa de um bar uma deusa branca me disse que existe uma manhã onde nós abrimos as nossas asas e que cantamos animados, enquanto voamos até alcançar o céu. E essa deusa também me disse que até que chegue essa manhã não há nada com o que se preocupar. Às vezes a escuridão é tão simplesmente como a carta A Estrela, às vezes é só uma questão de se ter paciência para cruzar a noite, às vezes é só uma questão de esperança que a escuridão se dissipe com a aurora. Às vezes e tão somente às vezes é uma questão de querer estar disposto.

O ônibus deslizou e caiu nos trilhos do trem, as pessoas gostam muito de coisas como essa. As pessoas gostam de ser no mínimo detestáveis. As pessoas simplesmente gostam. E qual é o problema afinal? Os ônibus desgovernados carregam pessoas desgovernadas e as emoções, o medo e a acomodação também desgovernam as pessoas. Mas não há com o que se preocupar até que chegue aquela manhã.

Às vezes não devemos ser tão ingratos com a vida ou com os deuses ou com as situações ou com a porção de pessoas detestáveis que acabam esbarrando na gente em nossas vidas. Não é exatamente as pessoas o problema, se elas não fossem tão destituídas de espírito. Não haveria qualquer problema com as pessoas se elas não fossem bombas contra o espírito. E às vezes eu não devia ter tanta raiva a ponto de amaldiçoar o mundo, às vezes eu não deveria ter raiva da destituição do espírito. Porque talvez eu mesma não tenha espírito algum agora, senão uma queixa, uma amargura e uma grande decepção.

Decepção!

Decepção não ensina ninguém a viver. Decepção te mostra o quanto incapaz você é para fazer um julgamento adequado. Decepção é acreditar em palavras vazias de pessoas destituídas. Decepção é ter a certeza de que você foi apenas usado em benefício de um egoísta filho da puta que por algum motivo pensou que você é tão vazio e destituído de sentimentos como ele. Decepção é acordar para a realidade e verdadeiramente enxergar que aquela pessoa que você idealizava nada tinha a ver com a pessoa escrota que realmente era. Decepção é abrir os olhos para a verdade e admitir com todas as letras de que você é um estúpido idiota que julgou tudo errado.

Decepção é acordar pelas manhãs da vida e querer ter uma borracha gigante para apagar as coisas que fez e uma foice ainda maior para matar aqueles que te fizeram simplesmente mentir pra si mesmo. Decepção é não conseguir parar de amar apesar de tudo. Decepção é olhar no espelho enquanto chora e saber que só você, apenas você foi o grande idiota da história.

Mas, ao menos, me recuso não olhar para trás a fim de tentar encontrar em mim mesma um par de asas, para que eu possa voar livremente quando a manhã chegar. E cuspir em você lá de cima. Pois por eu ser também da mesma espécie, sou também detestável.


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