segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Deixo ir


Amor, Nott hoje me envolveu com o seu belo manto noturno, amorosamente me deixando lembrar aquelas coisas que me fazem tão bem num nível pessoal e individual. Aqueles gestos amorosos que conseguimos de tempos em tempos ter com a gente mesmo, um tipo de entrega delicada de mim para mim mesma.

Perguntei a Hella o que seria interessante deixar morrer hoje para assim gerar mais vida. Então, percebi que eu preciso te deixar ir. Não externamente, porque há muito não está aqui, mas te deixar ir embora de dentro de mim. Eu te senti e te ressenti por muito tempo, eu te amei e te odiei por muito tempo. Em silêncio eu te toquei, afaguei seu cabelo, te beijei e te deixei dormir comigo. Em silêncio também eu te contei histórias, te disse o que eu sentia e o que eu esperava de você. Mas, isso só está em minha cabeça e eu preciso te deixar ir.

Não quero que se vá numa nuvem tempestuosa, quero que vá ao sopro do vento, na brisa quentinha da manhã, com um monte de coisas novas e bonitas para viver. Mas, eu tenho que te deixar ir, para dar espaço ao novo, para deixar que minhas necessidades sejam supridas de outra maneira. Eu preciso que você siga em frente, então simplesmente vá. Aos sopros dos meus beijos, com o meu sentimento de profunda gratidão, por toda a experiência, por tudo aquilo que eu aprendi contigo.

Preciso que entenda e que siga adiante, pois com a sua presença dentro de mim eu só consigo sobreviver e com o seu gesto gentil de partir eu começarei a viver. Deixar-me aqui sozinha é um gesto de amor de sua parte, eu entendo que é, pois assim eu fecharei esse capítulo de nossa história e estarei livre para começar um capítulo novo da vida. Obrigada por sua presença, mas agora é preciso te deixar ir.

Adeus, amor. Adeus! 

domingo, 28 de agosto de 2011

Beleza



Às vezes eu percebo que beleza não é algo superficial, como um rosto bonito e um sorriso perfeito, beleza é algo que floresce do interior! Tenho visto tantas pessoas “lindas” por fora e podres por dentro. E vejo tantas pessoas lindas por dentro que acabam se tornando lindas de qualquer forma! Aparência não quer dizer muita coisa.

A beleza é algo que me chamou hoje, porque algumas coisas não tão agradáveis também me chamaram a atenção hoje. Fiquei pensando se seria mesmo necessário tentar vestir milhares de máscaras e sair me apresentando por aí como uma pessoa longe de ser o que eu sou, aquele “eu ideal”.

Acho uma maluquice pensar em ser um “eu ideal”, de fato eu não sou uma pessoa agradável para muitas pessoas, a julgar pelos poucos amigos que eu tenho, não devo de fato ser uma pessoa agradável. Às vezes, quando eu estou bem doida, eu gostaria de ser a pessoa ideal para alguém, mas isso significa ter de mentir pra mim mesma e acho um preço muito alto a se pagar.

Não sou também nenhum exímio de amor próprio, se assim o fosse já teria abandonado coisas, pessoas e amores há muito tempo. Mas eu estou tentando, a cada dia eu tento um pouco mais e se alguém quiser gostar de mim, vai ter que gostar de mim imperfeita do modo como eu sou, com minhas esquisitices, minhas fragilidades, meus defeitos e excentricidades. Porque isso também faz parte do pacote.

Não se trata de arrogância da minha parte, acho que quando as pessoas têm de gostar da gente, elas simplesmente gostam, pela afinidade, por qualquer coisa, não preciso ser uma pessoa que eu não sou simplesmente para que gostem de mim. Não que a rejeição não seja dolorida pra mim, às vezes a vida gosta de pregar peças e me fazer gostar de pessoas que não gostam de mim. Mas o outro nunca é culpado por isso, a rejeição sempre será um sentimento meu, que sou eu quem sente e eu que tenho que me resolver com ele.

Já vivi alguns bons anos nessa vida e aprendi que me vender em troca da aceitação dos outros é um preço muito alto, porque no final das contas, é comigo mesma que eu tenho que conviver 24 horas por dia em 365 dias por ano. Ou seja, se há realmente alguém nesse mundo que eu tenho que estar bem esse alguém é eu mesma. E a vida sempre dá um jeito para não nos sentimos completamente sozinhos nesse caminho, quando parece que está difícil demais surgem pessoas, situações, momentos que nos inspiram, que nos acalentam, que nos dão um pouco mais de força para continuarmos.

E a vida é em si mesma uma prece à beleza, não a essa idéia insana de beleza que vemos por aí, de corpo perfeito, escultural e bons modos. Beleza não é uma coisa. Beleza é uma inspiração, é uma energia, uma conexão. O nascer do sol é lindo não porque ele é uma coisa, mas porque ele nos inspira beleza.

Então, se há algo que eu sempre digo a mim mesma é: Não se venda! Às vezes é realmente difícil, às vezes é realmente doloroso, às vezes dá vontade de chacoalhar o outro e berrar: “Me aceita assim mesmo”, mas não temos o controle sobre os outros, não existe uma fórmula, não há como se obrigar a gostarem da gente. Podemos vestir milhares de máscaras, mas isso soa tão superficial que todos percebem. Infelizmente eu não sou uma peça que qualquer um pode moldar para me ter sob medida. Eu até gostaria que assim fosse, pois quem sabe isso resolveria a questão da rejeição. Mas não é bem assim que a banda toca. Até porque não estou aqui para servir, mas pra compartilhar. Assim sendo você não gostar de mim é um direito seu, da mesma forma que lidar com a rejeição é um problema meu e vice-versa.

Beleza é, assim simples.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Essencialmente bons e maus

Na Ilustração a deusa nórdica Hella, deusa do submundo conhecido dentro da mitologia como Helheim, para onde vão os mortos. A deusa em si tem um lado belo e um lado sombrio.

"A arte do guerreiro é equilibrar o terror de ser um homem com a maravilha de ser um homem." - Carlos Castañeda

Estava eu aqui novamente tentando pensar a respeito do inverno, a respeito dos atos, sobre se somos essencialmente bons, ou essencialmente maus, se certos sentimentos são permissíveis a alguns e não a outros, estava me colocando a pensar na variedade do ser, dos “nós”. Estava pensando nas ações e nos eventos que delas resultam. Estive observando as pessoas, li num blog um autor que estava falando que certos psicanalistas vêem pênis por toda a parte nos símbolos oníricos e nos comentários do mesmo artigo, tinha um profissional da área defendendo o ponto de vista do Freud e o outro psicanalista citado no artigo do rapaz, dizendo que naquele tempo era o que eles tinham, dizendo que o grande problema não era basicamente ver pênis por toda a parte nos símbolos oníricos, que o problema era a escória da sociedade que adorava Raul Seixas e vivia transgredindo leis ou tentando viver como ele viveu. Tentando agredir o autor do blog pelas suas preferências e claro, porque discordava do ponto de vista dele.

Então eu penso: “Não é o que pensamos que nos torna qualquer coisa, não é o que pensamos que faz com que tomamos um lado ou outro, não é o que pensamos que faz com que defendemos uma coisa e atacamos outra, são as nossas convicções que nos impulsionam a fazer isso”. Será que algum deles estava com medo de estar errado ou de admitir que o outro poderia estar certo? Vejamos...

Eu converso com uma amiga, que está com um sério problema, não falarei do problema dela em específico porque isso não diz respeito a ninguém, mas podemos dizer que ela está basicamente de cara com a morte. Então, me contou que sonhou que estava recolhendo ossos na noite anterior. Eu pensei, seja como for, ela está tentando resgatar aquela força interior que há tanto tempo residiu na escuridão do inconsciente dela, tentando pegar os restos, aquilo que restou de si mesma para trazer à vida. Então, há algo que ela diz que me chama atenção: “No final eu estou bem, estou como se me sentisse numa capsula, eu sei que tudo o que está acontecendo são conseqüências das coisas que eu fiz e eu tenho que lidar com isso de qualquer jeito. Sem lamentações para o momento. Sinto-me estranha de todo modo, em outro momento isso me deixaria desesperada, mas agora eu só tenho em mente que isso é resultado de tudo o que eu fiz e tenho que resolver”.

No Odinismo nós damos o nome a essa onda de eventos de Wyrd. Wyrd não se trata de destino, mas das conseqüências de nossos atos, ele diz absolutamente que é exatamente aquilo que estamos fazendo hoje que determinará como será o nosso amanhã. E pensar nisso é angustiante de toda maneira, imagine ter de estarmos completamente atentos com cada palavra falada, com cada ato, com cada sentimento, com cada pensamento. Wyrd é basicamente como muito bem descreveu Saramago no Ensaio Sobre a Cegueira:

A culpa foi minha. chorava ela, e era verdade, não se podia negar, mas também é certo, se isso lhe serve de consolação, que se antes de cada ato nosso nos puséssemos a prever todas as conseqüências dele a pensar nelas a sério. primeiro as imediatas. depois as prováveis, depois as possíveis, depois as imagináveis, não chegaríamos sequer a mover-nos de onde o primeiro pensamento nos tivesse feito parar. Os bons e os maus resultados dos nossos ditos e obras vão-se distribuindo, supõe-se que de uma forma bastante uniforme e equilibrada, por todos os dias do futuro, incluindo aqueles, infindáveis, em que já cá não estaremos para poder comprová-lo, para congratular-nos ou pedir perdão, aliás, há quem diga que isso é que é a imortalidade de que tanto se fala.”

De todo modo é sempre impossível prever. Nunca sabemos que interpretação o outro pode dar a qualquer ato nosso, pois nunca conseguimos ser impessoais. Toda a leitura que nós fazemos do mundo é profundamente pessoal, individual e intransferível. E aqui cabe porque eu quis falar primeiramente da convicção dos dois terapeutas anteriores. A convicção tem um quê de resistente. Existem certas crenças pessoais que não abrimos mão, mesmo quando estamos certos de que elas não estão nos fazendo bem, quando ela só está nos levando viver à vida do modo mais difícil. Embora haja de se pensar qual deveria ser o modo fácil. De todo o modo, vejo pessoas defendendo morais, defendendo conceitos a preço de sua própria felicidade, de seu próprio bem estar.

Estava a pensar que estamos tão programados a evitar as coisas ruins, que nem nos damos conta que muitas vezes o simples ato de evitar dá inicio as coisas ruins. Somos criados de tal maneira que estamos todos com medo, estamos todos com medo do que queremos ou desejamos, estamos envergonhados do que somos, do que pensamos, do que desejamos, estamos constantemente vivendo num estado de tensão louco. E estamos constantemente tão rígidos, com tanto medo de sermos descobertos, com medo se seremos rejeitados, humilhados, vitimizados, hostilizados, que estamos constantemente lutando para evitar qualquer tipo de contato com aquilo que uma autora muito sabiamente nomeou de “não-belo”. Estamos numa corrida louca atrás do prazer, do bom, do correto, do belo e tudo o que parece sair do que é “bom”, nos deixa completamente aterrorizados e desesperados. Então, lutamos, lutamos para defender nosso ponto, para defender as nossas convicções, para manter a persona, para não perdemos um bocado de comida, ou de prazer, ou de qualquer coisa que nos mantenha acomodados em nosso mundinho convencional e confortável, por mais infeliz que possamos estar com isso.

Porém tudo tem o seu tempo. Quando estamos vivendo o inverno interior, percebemos que às vezes parece ser uma época totalmente irritante, tudo está recuado, é a morte que está a dançar por todos os lugares, é o frio que nos mantêm presos em casa tentando nos manter aquecidos, é a lentidão das horas, a escuridão dos dias e das noites, a feiúra, o desprazer, a necessidade de ter que lutar ou fazer muito esforço para sobreviver. No inverno é quando nós vemos a Morte batendo em nossa porta e nos lembrando que na natureza tudo é cíclico, que é necessário morrer para nascer, que isso faz parte do ciclo vida-morte-vida. Assim como é a natureza, cíclica, assim nós também somos. Nossa racionalidade e genialidade nos fez acreditar que estamos apartados da natureza, que somos um bando de alienígenas que em forma de espírito tomamos um corpo e estamos aqui apenas de passagem. Mas, não é assim, nossa psique, nossa alma, seja lá que nome você gosta de dar a isso, não está apartada da natureza. Não importa o quão cheio de nós mesmos nós estamos, não importa o quanto estamos numa corrida maluca atrás do que é agradável e só do que é agradável, o inverno sempre irá se apoderar de nós quando for o momento e a Morte virá bater em nossa porta com sua cara feia e dizer “Oi”.

É necessário fins para os novos começos, é necessário encarar o feio para se encontrar o bonito, é necessário passar pela noite para vermos o nascer do sol. Preocupa-me essa loucura generalizada no qual todos nós estamos submetidos. Essa busca desenfreada pelo que é bom e agradável, essa loucura de que temos de aceitar o bem e negar o mal. Essas ações estão simplesmente mutilando nossa humanidade. Nossa totalidade é uma dança de bem e mal, masculino e feminino, luz e trevas, feio e bonito. E é dolorido olhar para o mundo e perceber que essa fixação pelo que é agradável e só pelo que é agradável é que norteia nossos comportamentos. Quando estamos cheios dessa fixação, achamos que temos o direito de ferir uma pessoa que errou com a gente, porque só nós somos o correto, em nossa loucura, achamos que temos o direito de julgar as outras pessoas que não se adéquam a sociedade e a moralidade implantada só porque estamos convictos que assim que tem que ser. Não conseguimos perceber que enquanto estamos tão obcecados pelo que é agradável, nossos olhos só conseguem focar no que é desagradável, justamente porque estamos morrendo de medo de ter que encarar o desagradável batendo a porta ou a Morte. Estamos apavorados e queremos ter o controle de tudo, mas não podemos ter esse tipo de controle.

Não há uma receita, embora milhares de livros estejam aí pra te dar alguma pista. O inverno chega para todos, a morte vem para todos, os fins também vem para todos. Mas isso não é ruim, apenas cíclico. Nós reagimos bem e aceitamos estação invernal quando ela chega pra nós, sabemos que não podemos fazer nada contra o clima, contra a baixa temperatura, nós nos recuamos, fechamos nossas casas, procuramos as bebidas quentes, tentamos nos manter aquecidos o máximo que pudermos, nos agasalhamos, queremos dormir até mais tarde, preferimos ficar dentro de casa. Ninguém tem vergonha porque está com frio. Ninguém também deveria ter vergonha porque está vivendo um inverno da alma, porque todos nós o vivemos. Todos nós encaramos fins e recomeços, dores e alívios, tristezas e alegrias, erramos e acertamos, é inerente ao ser humano. Isso é nosso e é nosso direito conviver com isso. Quando passamos a aceitar o próprio mal, o próprio “não-belo” que temos dentro de nós, conseguimos aceitar isso nos outros também. Não iremos querer matar o outro só porque errou ou fez algo que julgamos errado, só desejamos matar o outro por um erro cometido, quando também desejamos matar a nós mesmos por cometermos os mesmos erros. Mas quando nossa convicção não é mais a de se estar certo ou de se evitar o “não-belo”, quando aceitamos isso dentro de nós mesmos, então conseguimos aceitar isso nos outros, as pessoas deixam de ser tão irritantes, porque nós não estamos mais tão irritados com nós mesmos. E a isso alguns dão o nome de transcendência, mas não passa de um movimento de auto-aceitação.

Os outros são exatamente aquilo que nós projetamos. Ninguém é impessoal. E o universo como nós o vemos é apenas uma visão pessoal que temos dele, e, ela é mutável, desde que estejamos dispostos a aceitar o bem e o mal dentro de nós mesmos, de nos acolhermos verdadeiramente nos nossos invernos pessoais e procurarmos nos aquecer, ao invés de tentarmos evitar isso a qualquer preço, só porque nosso inverno interior poderá nos mostrar que não somos belos, ou bons ou tão perfeitos quanto gostaríamos. Quando abandonamos nosso desejo insano de perfeição, então podemos viver em paz na nossa completude. Quando o inverno acaba, sempre se segue a primavera com as suas novidades e seu pulsar de vida. Os altos e baixos, os feios e belos, são inerente a nossa natureza. Somos essencialmente bons e maus. A luta do bem contra o mal é o foco da moralidade. Talvez seja um grande passo conseguirmos parar de lutar. O cão não ladra por valentia e sim por medo – provérbio chinês.

Ainda Saramago: “O medo cega, disse a rapariga dos óculos escuros, São palavras certas, já éramos cegos no momento em que cegamos, o medo nos cegou, o medo nos fará continuar cegos.”

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Mother Revolution


Todo mundo sabe que eu adoro Tori Amos desde muito tempo, nunca me canso de ouvir, é aquele tipo de cantora e banda que você simplesmente não consegue se enjoar. Acho que gosto tanto dela porque ela está sempre relatando às vezes aquilo que eu sinto como eu exatamente sinto e o que eu desejo como eu realmente desejo. A musica tem um modo estranho de interagir com a gente. É como Adous Huxley diz: “Depois do silêncio, o que mais se aproxima de expressar o inexprimível é a música”.

Estava aqui escrevendo, tentando criar alguma coisa, deixando a criatividade me curar, pois a criatividade é um meio bastante eficaz de cura da alma, ouvindo Tori Amos, quando ao ouvir a musica Mother Revolution do álbum Beekeeper, eu senti algo estranho que eu não saberia descrever, eu simplesmente parei e pensei: “Bem, essa musica está falando comigo”. Então, ouvi a musica um monte de vezes para captá-la e ao prestar atenção na letra, eu vi que ela estava exatamente falando de mim ou comigo. Ela diz o que eu sinto, o que eu fiz e expressando aquilo que está no inconsciente. E pior, ela estava realmente falando a respeito do que eu estava escrevendo. Pela percepção alterada, eu acho que a musica acabou ficando mais intensa e psicologicamente causou um tipo de expressão, para não dizer, pura projeção! 

A musica e a tradução estão abaixo:





Mother Revolution
Artista: Tori Amos
Tradução: Chaos Baby

Sorte a minha, eu imaginei o tipo de homem
Que você poderia vir a ser
Agora eu desejava estar errada e então
Eu iria me lembrar de respirar.

E ao longo da torre de vigia
Os cavalos e as éguas da noite negra
Preparam-se para o resultado
Para os tempos estranhos (que virão) sobre nós
Mas você não contava que
Era outra mãe da
Outra mãe da revolução
Mas você não contava que
Era outra mãe
Uma mãe da revolução.

Você poderia me ter
Você poderia me ter
Você poderia me ter bem ali, ao seu lado.
Você poderia me ter, garoto
Você poderia me ter, yeah
Você poderia me ter bem ali, ao seu lado.

Uma esposa emprestada num café
No velho El Paso
Depois eu vou para os Sete Portões
E minha irmã é Bass Bonanza.

E ao longo da torre de vigia
Os cavalos e as éguas da noite negra
Preparam-se para o resultado
Para os dias estranhos (que virão) sobre nós

Você não contava que
Era outra mãe da
Uma mãe da revolução
Mas você não contava que
Era outra mãe da
Uma mãe da revolução

Você poderia me ter
Você poderia me ter
Você poderia me ter bem ali, ao seu lado
Você poderia me ter, garoto
Você poderia me ter, yeah
Você poderia me ter bem ali, ao seu lado.
O que você não contava que
Era outra mãe da
Uma mãe da revolução.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Frio


Tem dias em que a morte escoa pela janela, você simplesmente não consegue se envolver com a alegria que tenta te tocar. Parece que simplesmente falta alguma coisa. Não há o que sentir, pois não há uma tristeza que te afogue o peito e a alegria, ela fica rodeando, mas é como se houvesse um campo gelado ao redor, não a deixando te tocar.

Tem dias que o passado é soprado para longe, com o vento, mas de certo modo, para se convencer de que isso é o melhor agora, você repassa milhares de vezes todas aquelas cenas cinzas e horríveis. Então, você vai aos poucos percebendo que o frio te mostra muitas coisas das quais você não estava querendo ver. Você percebe que pessoas que você gostou muito por algum tempo, cavaram um túmulo e te enterraram vivo lá dentro. Não dá pra se dizer muito de sentimentos quando você é simplesmente um zumbi.

Assim eu me sinto hoje, como um fantasma a correr pela casa, vai para um lado e para o outro e ninguém percebe. Mas isso não é triste, não, definitivamente não é triste, embora seja sombrio. Quando o frio é muito intenso, há algo em você que o reflete também, há algo em você que é exatamente como os espíritos que cavalgam o vento gelado. Há algo em você que é tão ou mais gelado que o sopro do inverno.

Isso não é bom ou ruim, simplesmente é. Hoje eu não quero conversar, hoje eu não quero olhar para as pessoas, hoje eu não quero esperar por nada, não quero fazer nada, simplesmente quero ficar parada, sozinha, escrevendo o que vir a mente, ouvir as musicas que parecem refletir esse estado de congelamento. Embora eu desejei muito buscar o sol, hoje eu simplesmente não consegui, sou apenas um ser de gelo.

Um ser de gelo.

Um zumbi que fora enterrado vivo.

Aquela que não se importa mais. Aquela que cansou de se importar. Aquela que sabe que talvez amanhã o sol surja e derreta todo esse gelo, mas hoje eu apenas sou um enorme cubo de gelo. Fria, clara e sombria. Hoje eu sou uma com o frio.


quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Nada



Não quero pensar, só por agora, não quero pensar... Eu agarrei um momento, um momento onde os barcos estavam todos ancorados e as enormes ilhas estavam atrás deles, é só um momento, um momento eternizado por minha memória. Um momento...

O navio parte, seu rumo o horizonte infindável, as ondas calmas, o sopro do vento, a luz do sol suave repousando na paisagem serena. O navio vai, não sei bem para onde, o navio vai e talvez reste uma saudade daquilo que se deixa, uma saudade daquilo que se vai, uma saudade... Encarcerado o coração da tristeza que não se sabe de onde vem e mesmo se soubesse não se falaria sobre isso... Não falamos mais sobre isso... O gato comeu a nossa língua. E o gato está morto. Nós também morremos?

As regras se escondem embaixo das cobertas em dias frios como esse. As regras escorregam para debaixo do tapete do desejo. As regras foram feitas para serem quebradas, como copos de cristais estourando ao som da voz aguda. Regras gostam de ter sentidos, como eu sinto, não me importa o sentido, como eu sinto aquilo que já havia sentido. Sentido, passado ou direção?

Mas essa é só uma tarde e os barcos não estão ancorados, o vento sopra as velas, o capitão gira o leme e a margem já não está mais tão próxima. O silêncio do tumulo, o silêncio do balcão do bar. E aqui vou eu novamente, rumo ao desconhecido, rumo às novas conquistas, rumo sabe-se lá pra onde.

A vida é um jogo e em jogos se perde e se ganha. Em jogos só o que fazemos é jogar e eu acho que me sinto um pouco cansada, um pouco indisposta, um pouco sóbria demais. E o que dizer daquele que me tira do mar furioso? O que dizer de deixar as águas rumo às terras seguras? O que dizer?

São imagens, imagens que se sente, imagens que se preenchem, como uma taça a se encher de vinho, como um copo a se encher de saudade, como uma cachaça a nos encher de embriaguez. Como? Os dias se vão, não há urgência, nada é tão urgente quando pensamos que somos eternos, quando estamos cheios de nossas certezas... E eu me escondo nos pinheiros. E nada é urgente. Nada é.

Nada, o mar ou o vazio? Nada é pra sempre, nada é vazio, nada entre as ondas. Nada. Eu estou com sono, querido, estou com sono e preciso dormir. 


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