terça-feira, 5 de abril de 2011

Deuses

Houve uma vez em que eu fui transformada num mito, uma deusa muito bonita e maluca. Ofereceram um lugar bonito para viver, era tão bonito que eu mal podia acreditar que eu poderia ter uma morada tão bonita ao ser deusa. Mas havia alguma estranheza em meu endeusamento, porque havia algo de muito humano dentro de mim.

Dizia a lenda, que eu como deusa, poderia encher os lugares por onde eu passava com uma suave luz vermelha, exalando os perfumes adocicados como um suave sândalo, assim enlouquecendo todos e num belo dia eu encontrei um deus que me amava tanto quanto os mortais que me cultuavam em troca de alguma loucura. E ele era o mais bonito dos deuses e tinha um palácio todo em diamante e escrevia sonhos nas paredes brilhantes e espalhava uma luz branca que dizia encher de paz tudo aquilo que aquela luz tocava. Mas por ser um deus que fluía paz, tudo a seu redor sempre estava muito tumultuado, mas ele não podia entender isso. Como eu não podia jamais compreender a minha loucura e a minha divindade.

Numa tarde nós nos sentamos num jardim bonito e suspenso feito para os deuses e eu disse  que eu estava assustada com a minha nova condição de deusa, dizia para ele o quanto era difícil ter de lutar com a maldição que é dada apenas para os deuses e que minha maldição era a de sempre ser louca e com isso me tornar um problema para as pessoas. E ele tocou a minha mão e disse que não importava se homem ou deus, todos nós tínhamos problemas. E eu perguntei como ele se sentia, sendo um deus que fluía a paz, mas ao mesmo tempo só estava em lugares onde sua paz era de extrema necessidade. E ele me disse que se sentia triste também.

Calamo-nos e todo o universo se desenhou em nosso silêncio de deuses.

A brisa soprou as copas das arvores do jardim e nossos pés foram cobertos pela queda do outono. Então eu desenhei algumas coisas no chão arenoso e coloquei algumas sementes no banco em que estávamos sentados. Aqueles deuses antigos, que todo mundo conhece, de vez em quando passavam por esse jardim para ver os novos deuses e brincar um pouco com seus destinos. Mas, enfim, ninguém sabia de nada e o jardim cantava a musica de sempre. Segurei as pontas do meu vestido e sussurrei algo como: “Eu só queria um pouco de paz”. Então ele segurou a minha mão e lamentou: “E eu um pouco de loucura”.

Rimos o riso dos deuses jovens. E depois eu simplesmente chorei. Ele me disse adeus e eu também. E as flores já estavam murchas e as folhas já estavam todas no chão. E um deus do inverno passou com a sua carruagem. Ele voltou para o seu palácio e eu para meu reino vermelho. Porém conta a lenda que deuses jovens não sofrem. E eu mordi uma maçã e ele pintou um quadro. E não sei quanto tempo se passou...

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