domingo, 29 de maio de 2011

Obsessão

Que inquietação que me atormenta num domingo de manhã quando o frio deita um manto de morte sobre a cidade? Por que eu não consigo? Por que eu não consigo? Por favor, deuses viajantes, levam-me para perto... Levem para perto... Daquele que roubou da noite os meus sonhos e de mim a sanidade.
Eu estou de saco cheio, o chapéu encolheu, o manto entreteceu, entre eu, entre o seu, entre o meu... Destino falido dos prantos dourados, da noite calada, do luar molhado. Das portas, das masmorras, dos poços escuros. É um anjo que canta um canto mudo, de olhares que jogam açúcares nas folhas do lírio. Um olhar vazio, vermelhidão e colírio.
Oh, dos montes o senhor dos desalojados, eis que a frase é de som apaixonado, porque dos montes e das areias, o mar carregou uma parte e minha alma incendeia, do calor, do calor daquela rodoviária. Eu ainda posso ver seus olhos verdes e eu ainda só posso ver seus olhos verdes. E seus lábios eram quentes, tão quentes que torturam Eros ainda hoje.
Deixaram-me nua nessa rua e minha pele clara espelha os olhos da madrugada. Toca-me. E os sonhos deitaram uma tarde triste e uma arvore com corpo de mulher e um mar cheio de conchas e uma nuvem para os dragões e uma prece para o vento e um medo...
O ar é tão gelado que faz doer as narinas, a musica é tão triste que a alma desanima, a cidade está dormindo porque é domingo e eu estou aqui a escrever tolices. Para fazer sair da alma aquilo que eu não consigo arrancar, para tirar de mim o triste despertar de todas as manhãs de cama vazia.
E eu acho que você realmente me queria por perto essa noite. Eu realmente acho que você me queria por perto, como há muito tempo pareceu não querer. E eu estava segurando um gengibre e um cigarro. E eu estava segurando um dinossauro e uma bala. E eu estava... Eu estava... Estava querendo dizer que eu sinto sua falta.
Os trens partiram com seus passageiros para levá-los não sei muito bem onde. E eu fiquei sozinha naquela estação e quando eu levantei meus olhos, eu vi algo como você do outro lado e eu acho que nós sorrimos e o sol esquentou o meu nariz gelado de manhã e um senhor passou por mim fazendo o seu Cooper. E alguém me lembrou que a vida é em si psicodélica.
Ele me abraçou quando eu chorei, ele me abraçou quando eu o xinguei, ele me abraçou porque eu estava doida. Acho que me abraçaria agora também.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...